No País dos arquitectos: a exposição “My plan for Japan”

No 65.º episódio do podcast “No País dos Arquitectos”, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com a artista Ana Aragão sobre a exposição ‘My Plan For Japan' e as “construções ficcionais” da sua “arquitectura de papel”.

A convite da Embaixada de Portugal no Japão, do embaixador Vítor Sereno e da embaixatriz Andrea Direito, a artista Ana Aragão apresentou a exposição ‘My Plan For Japan’ em terras nipónicas. A mostra teve origem na exposição ‘No Plan For Japan’, que esteve presente no Museu do Oriente em Lisboa: “A estória que eu contava em ‘No Plan For Japan’ era: «Eu queria muito ir ao Japão e não consegui.» Neste caso, no ‘My Plan For Japan’ é o contrário: «Eu queria muito ir ao Japão e consegui levar também um pouco de Portugal ao Japão.»”

Na exposição, a artista desenvolveu uma peça de grandes dimensões para comemorar os 480 anos do primeiro desembarque dos portugueses no Japão. Intitulando-se ‘Auto da Barca do Efémero’, a peça é inspirada nos biombos namban, fazendo “uma espécie de reinterpretação contemporânea” da nau kurofune: “Esse grande barco, se nós o virarmos ao contrário – que é possível —, funciona como uma espécie de ponte. (…) E foi isso que aconteceu. Houve, precisamente, uma ponte entre Portugal e o Japão nestas comemorações nesse momento importante.”

A exposição realizou-se em Tóquio na galeria Hillside Forum (projecto do galardoado arquitecto Pritzker Fumihiko Maki) e contou também com a colaboração do músico Tiago Bettencourt e as animações da Universidade Lusófona do Porto: “As pessoas, através de uma aplicação no telemóvel (…) conseguiram visualizar e ouvir as animações musicadas que se chamam ‘Soundscapes for Ana’. É um projecto paralelo, mas que completa bem o lado completamente analógico dos desenhos.”

A artista apresenta o Japão como um lugar de opostos, onde existe o silêncio e o seu contrário: “Eles são realmente um universo, um universo paralelo de extremos.” Esse paradoxo também está presente no seu trabalho: “Embora, obviamente, haja sempre a repetição de qualquer coisa e eu consiga dizer poeticamente que estou sempre a fazer o mesmo desenho, o que não é nada mentira, também consigo dizer com a mesma convicção o contrário. Tenho sempre de fundar algo novo. É isso que me motiva a querer acabar este trabalho e a fazer outra coisa nova para experimentar algo diferente e, no limite, ver outra coisa diferente.”

Dentro do seu “espectro sensorial”, a artista reflecte também sobre a importância de pensar a cidade e a sua sustentabilidade: “Todas as questões ligadas à sustentabilidade estão na ordem do dia e acho que fazem todo o sentido estarem na ordem do dia. Por exemplo, falando do Porto, parece-me fundamental haver mais parques, mais lugares para a urbanidade, para as pessoas se encontrarem e para se ligarem e criarem um espírito de comunidade que é tão fundamental.” Por outro lado, há o seu oposto: a busca pelos “mundos íntimos”. Ana Aragão reconhece que os espaços onde as pessoas habitam são cada vez mais reduzidos e lança uma questão: “Quando não há o sótão, quando não há a cave, quando não há aquele lugarzinho – que Gaston Bachelard definia no livro ‘A Poética do Espaço’ – como é que fazemos? Onde vamos encontrar os nossos recantos?”

A arquitecta de papel explora também a temática dos lugares imaginários: “Gosto muito desse lado que não é, mas que podia ser. Isso estrutura bastante o meu trabalho.” Procura inspiração nos livros de Jorge Luis Borges, na densidade das paisagens urbanas e no coração de Shibuya: “Interessam-me sobretudo cidades grandes e como é que elas funcionam como um organismo vivo. É impressionante como é que uma cidade como Tóquio, por exemplo, com uma megalópole daquela dimensão é tão estruturada e organizada.” À luz do pensamento de Juhani Pallasmaa, Ana Aragão também considera que os espaços habitados pela imaginação podem ser tão poderosos como os que os que são habitados pelo corpo.

Durante a conversa, a artista descreve ainda o que vê na janela do seu atelier: “Somos voyeurs, um bocadinho como ‘A Janela Indiscreta’. Este atelier tem isto mesmo. (...) Temos uma vista para um Porto ainda típico. E existe esta ideia de que estamos a espreitar para a vida das pessoas e para qualquer coisa que elas deixaram em suspenso, ou desarrumado, ou por limpar, ou por compor, ou por recuperar, mas as pessoas saíram e não nos contam o que andam a fazer. Acho piada a esta ideia do segredo. Existe uma certa cumplicidade que se estabelece.” No final da conversa, Ana Aragão diz que gostaria que a exposição 'My Plan For Japan’ também fosse apresentada na Invicta: “Estou à espera, eventualmente, de algum convite que faça sentido porque seria bonita ela ser vista, por exemplo, aqui no Porto.”

Para saber mais sobre as suas arquitecturas imaginárias e a ligação com as cidades que vai descobrindo e desenhando, ouça a entrevista na íntegra.

País dos Arquitectos - Ana Aragão

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Exploring Urban Imaginaries and Paper Architecture, An Exclusive Interview Ana Aragão by OTIIMA

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Ana Aragão expõe no Japão e explora a memória portuguesa de há 480 anos